quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Dáfne

 Definir as coisas como quem tateia

Sentir a palavra na carne 

Tocar-lhe 

Colocá-la na palma da mão, fechar e abrir os dedos, cheirá-la, olhá-la de banda, de cá e de lá

Sentir sua textura improvável, imprevista, mutável 

Preparar-se para enfrentar sua fúria, seu humor instável.

Preparar-se para o beijo urgente que lhe tira o sangue e o fôlego 

Ou melhor, não se prepare

Não se arme

Deixe-a vir 

Pegue-a com suas mãos isentas

Permita que escorra entre seus dedos 

Permita que se vá, que flua, que se transmute, que se solidifique, que espete sua pele ou que atravesse o seu peito, ou que lhe queime, ou que lhe acaricie suavemente. Somente deixe.

Seja o corpo em que ela vai se materializar e depois, deixe-a ir, assim como veio. 

Se ficar o perfume, um pedaço do vestido, o sangue no seu lábio, mostre-o ao mundo.






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