quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mudez


Céus e terras passarão
minhas palavras também.
E eu que não falo
não calo.
Escrevo.
Esta página branca é um espelho
que me devolve em eco esse meu grito louco.
Seu som insuportável arde em meus olhos.

Céus e terras passarão.
Minhas palavras também.
@Ana Ribeiro

terça-feira, 29 de junho de 2010

Para um amigo


E agora, José?
Ficou importante
É poema, não é?
Ficou impotente
Imponente o José.

Perdeu o emprego
Conhece as marés
é forte
bateu
bebeu
morreu
Virou poema, José.

Está bêbado, José
Conhece Cristo,
Platao, Cecília e Russo
Puro delírio...
lúcido.

Não tem amigos
Tem galera
Na maioria das vezes (que lugar comum!)
Está sozinho
Faz piada com sua dor
fingidor.

Cita São Lucas na mesa do bar
Cansado, cambaleia
Não cai
Jamais.
Fala de Morrison, Dylan e Cássia
Para aquela turma do botequim
que não quer saber de política
Apenas sorri com o mundo azul marinho

E você é profeta, parodia
É louco, anuncia
É José e não disfarça
E agora?

Você cheira a whisky e está no poema
Não trabalha e está no poema
Tem insônias, fobias, ataques, delírios
e está no poema
E agora?

E agora, José?
Meu tempo acabou
Já vi seu riso e por trás, a dor
Seu amor
Por Hendrix, Lennon, Simon
Pagodinho
Outro José

Não completou escolaridade
Mas entende tudo de alma humana
É bêbado
José
Sem graduação, nem disciplina

Mas...
Há um brilho que me atrai por trás de seus olhos vermelhos
Talvez porque me façam viajar
as suas fantasias
E você entra no poema, José
Porque é grande
sua fé.
@Ana Ribeiro

sábado, 26 de junho de 2010

O ser e o tempo


Eu sei que não é mais
sei que agora só será amanhã
e que hoje, é só construção
que se faz sem rasuras

Somente no dia que virá poderá estar pronto o dia que hoje já se vai.
o mesmo que estará sendo construído ainda
o fato é que só existe agora,
esse instante
que já foi.

Na verdade, à soma dos dias, me subtraio a cada momento

O sou
ainda será
Hoje sou apenas processo
construção eterna
que angustia
mas me liberta
da obrigação de ser
Mas antes,
me deixa isenta da culpa
de vir-a-ser
sempre
eu.
@Ana Ribeiro

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Lúdico cárcere


Marginal
é a linha
que limita
Minha língua
minha arte
arsenal
artesanal
marginal
Minha língua
ângulo
célula
rótula
pérola
Código
Marginal
Eu
Marginal____________
@Ana Ribeiro

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Abismo


E no meio de tudo
uma palavra se pendura.
O vácuo a deixa
entre a permanência e a queda.
Fatal é a inércia do dia.
@Ana Ribeiro

Sentença

 Todo mundo vai morrer. Mas ninguém devia morrer de câncer. Porque de câncer não se morre... se vai morrendo... O gerúndio como o grande mal...