Délia se foi
Dulce partiu
Filó descansou
Acabou-se Abreu
Dizem que ainda se vão mais uns muitos
mais de mil
mais de mil e cem
Dizem que ainda vão muitos, muitos mais que cem mil
Nessa conta Maria não entra
No começo teve medo. Fechou janela. Se escondeu da comadre. Desculpou-se com o Padre e não foi comungar.
Mas agora não tem mais susto, nem arregala os olhos, nem põe as mãos na cabeça.
Quinzin' morreu? É mesmo? E nem levanta os olhos do tanque inundado até a boca, molhando sua barriga. E segue a segunda feira.
No começo era um horror: dez, cinquenta, quinhentos... Mas isso foi há muito tempo.
Maria já não conta mais.
É que agora... tem que tocar a vida.
@Ana Ribeiro
O poema "Obituário" retrata a passagem da vida e a inevitabilidade da morte. Começa enumerando nomes de pessoas que partiram, criando um senso de despedida e perda. A progressão para números cada vez maiores de falecimentos sugere a magnitude da morte, uma realidade que é difícil de ignorar.
ResponderExcluirNo entanto, o contraponto surge com o nome de Maria, que não entra nessa contagem. Maria parece ser uma figura que enfrentou o medo inicial da morte e, ao longo do tempo, se acostumou a ela. Ela não mais se surpreende com as notícias dos falecimentos, apenas continua sua rotina. Essa resiliência diante da morte é um tema central do poema.
A segunda parte do poema destaca como, inicialmente, a notícia da morte era horrível e assustadora, mas com o tempo, Maria se acostumou a isso. A água no tanque, molhando sua barriga, simboliza a continuação da vida cotidiana, apesar das perdas.
A poesia faz uma reflexão profunda sobre como a morte se torna parte da vida e como as pessoas se adaptam a essa realidade. É uma observação poderosa sobre a natureza humana e sua capacidade de superar o medo e continuar vivendo, apesar das adversidades.
Muito obrigada pela leitura e pelo comentário. Volte sempre!
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