Uma
mulher, uma casa
uma casa e
um jardim
e a
eternidade.
Nós não
somos o que fomos.
Somos
aquilo que ficou de nós
e se
perpetua.
Uma
mulher, uma casa
uma casa e
um jardim
e a
eternidade.
A mulher
que está nas filhas
a mãe que
está nas filhas
a avó
o exemplo
Sua
humanidade tão latente
pulsa na
falta do colo,
no olhar
duro,
na palavra
calada e que por isso
ecoa
ainda
hoje.
A mãe que
foi
a mãe que
queriam.
A mulher
que queria ser
e a que
não teve escolha.
Quem há
de saber se chorou?
O quanto
amou?
Se foi
feliz?
Se fez o
que quis
Se não
quis.
Ela são
muitas. Quem saberá contá-las?
E quem sou
eu para dizê-las?
Sei dizer
da que ficou.
Da
quitanda fresca e cheirosa
do fogão
vivo
do
trabalho
Sei falar
do vestido novo
das tramas
do bordado
dos
nozinhos do crochê
(quem me
dera saber dos pensamentos que os teceram)
Sei falar
das palavras que os filhos lhe adivinharam
e agora
proferem.
Sei falar
dos dons herdados
dos
recheios, da mesa farta, da família em volta
das
colchas, dos botões, das cores,
do
aconchego da lã,
do doce,
do cheiro
e do sabor.
Sei dizer
da flor.
Queria ter
ouvido o barulho da bica
sentido o
calor do forno,
ouvido o
galo cantar
ter vivido
um sábado de férias
Ter tido
medo do escuro,
rezado o
terço,
bebido o
leite quente.
Queria ter
visto a chuva da janela
nos dias
de chuva interminável.
Queria
ter feito travessuras
ido dormir
assustada, sentindo o peso e o aroma das cobertas.
(sua mão).
E nas
febres de criança
nos
delírios e calores
nos
arrepios doloridos
chamá-la.
E ela
viria doce (talvez só naquele dia)
E a
compressa e seu corpo próximo
seria amor
bastante.
Quem teria
sido afinal,
se não
existíssimos nós?
É em nós
que ela existe.
Mas foi
muitas outras.
Segredo.
Uma
mulher, uma casa
uma casa e
um jardim
e a
eternidade.
@anaribeiro
Oi Ana, seu poema me fez sentir a presença da Vó Zainha e da Vó Izabel. Quanta saudades, e lembranças de cheiros e gostos. Obrigado por compartilhar sua suprema arte. Parabéns. Rafael
ResponderExcluirPoema bem construido, tema emocionante, leitura excelentr
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