Querida mãe,
eu não volto para casa hoje,
tenho que voar nas asas pesadas do destino;
quem sabe amanhã quando ele à tua porta bater,
possamos nos reencontrar.
Mãe, diz à ela que não vamos nos casar,
que as lágrimas hão-de pingar todos os dias,
cada vez menos até ao doce olvidar;
as suas eu sei que vão escorrer sempre bem devagar,
pois não há cicatrizes que as detenham
e não existe divórcio no matrimónio materno
esta lágrima invisível, que não precisa de lenços,
que se mostra na ruga do verso
do verbo interrompido,
na falta de acção,
da impotente lágrima do transparente e rotundo não.
Mãe, não deixe que eu seja apenas um bilhete de identidade,
lápide com rosto oficial
desarrume o meu quarto,
pinte as paredes de amarelo;
que a luz entre,
que a poluição e o ruído se instalem,
convide os amigos, os meus e os seus,
mas fique a sós comigo apenas quando estiveres a sós contigo
afinal, o que mais somos
senão reflexo do nosso umbigo?
Cordão invisível do hereditário,
deus dos calabouços,
do olho por olho e do atirar a primeira pedra,
nunca o primeiro afecto ou o primeiro beijo.
Querida mãe,
por favor não responda a esta carta.
com amor, para sempre... seu filho
(texto escrito em 11 de Setembro de 2001, poucas horas depois
do atentado às Torres Gêmeas, de Ozias Filho, inédito)
GUERRA SANTA
Para garantir um lugar no céu
e gozar da vida eterna,
em nome de Deus
Instala-se
o inferno aqui na terra
?
Ana Ribeiro
eu não volto para casa hoje,
tenho que voar nas asas pesadas do destino;
quem sabe amanhã quando ele à tua porta bater,
possamos nos reencontrar.
Mãe, diz à ela que não vamos nos casar,
que as lágrimas hão-de pingar todos os dias,
cada vez menos até ao doce olvidar;
as suas eu sei que vão escorrer sempre bem devagar,
pois não há cicatrizes que as detenham
e não existe divórcio no matrimónio materno
esta lágrima invisível, que não precisa de lenços,
que se mostra na ruga do verso
do verbo interrompido,
na falta de acção,
da impotente lágrima do transparente e rotundo não.
Mãe, não deixe que eu seja apenas um bilhete de identidade,
lápide com rosto oficial
desarrume o meu quarto,
pinte as paredes de amarelo;
que a luz entre,
que a poluição e o ruído se instalem,
convide os amigos, os meus e os seus,
mas fique a sós comigo apenas quando estiveres a sós contigo
afinal, o que mais somos
senão reflexo do nosso umbigo?
Cordão invisível do hereditário,
deus dos calabouços,
do olho por olho e do atirar a primeira pedra,
nunca o primeiro afecto ou o primeiro beijo.
Querida mãe,
por favor não responda a esta carta.
com amor, para sempre... seu filho
(texto escrito em 11 de Setembro de 2001, poucas horas depois
do atentado às Torres Gêmeas, de Ozias Filho, inédito)
GUERRA SANTA
Para garantir um lugar no céu
e gozar da vida eterna,
em nome de Deus
Instala-se
o inferno aqui na terra
?
Ana Ribeiro
Ana, texto lindo, comovente!
ResponderExcluirAdorei teu questionamento, Ana!!!
ResponderExcluirBeijos!
Prezada Ana. O vermelho do 9/11 choca-me até hoje!! Emoção não tem tempo! Não foi um bom dia!!Um bom abraço.
ResponderExcluirobrigado Ana pela publicação do meu texto e pelo questionamento do seu texto! Fique bem!
ResponderExcluiramei seu blog, você é muito inteligente!
ResponderExcluirbeijos
A carta é muito emocionante e me instigou a ir conhecer o blog do autor.
ResponderExcluirO seu arremate completou com perfeição a intenção do post.
Menina, cheguei aqui por causa de um comentário seu no blog do Lacaio da Poesia... apenas uma palavra, mas a palavra perfeita. Adoro gente criativa, inteligente e sensível.
Te convido a conhecer meu blog.
Beijokas e uma linda semana pra vc.
Seguindo...