sábado, 18 de maio de 2013

Álbum de família


Uma história se esconde por detrás do papel brilhante do álbum de fotografias,
encoberta mil anos pelo lustro dos sorrisos e dos abraços.
Ainda assim, há memórias quase invisíveis, não fossem as sombras nos negativos.

Não há vida que se mostre nos retratos, sempre estáticos.
Há uma cera, uma tinta, um batom, um salto, a roupa nova, o mar ao fundo.
A felicidade cristalizada nas mãos que se tocam, na brincadeira das crianças.

Capturada para sempre. 

Benditas sejam as molduras que seguram outras verdades em dimensões proibidas.
@anaribeiro



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Beleza

Acolho o dia como quem colhe uma flor
Como quem sorve aos poucos
o remédio amargo na pontinha da colher.
Lembrança de mãe, de febre quente.
O sol esturricando rancores,
Tostando os amores lá fora.

O dia murcha como a flor sem vida
enfeitando um copo qualquer.

Para essa dor sem cura não há remédio.
Recolho o que sobra de perfume e cor.
Há febre ainda em minhas mãos  frias.

Acolho a dor
e durmo em paz.
A manhã é nova
e a flor.
@anaribeiro



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Armadilhas

Cada falso passo,
Cada passo vão.

Cada vão em descompasso.

Para cada passo dado nesse
trepidado
            chão,
Preciso que me dê a sua mão.

A vida em linha reta, sem direção.
Apressado vou ao seu encalço.

Cadafalso
@anaribeiro

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Dezembro

Desejos empoeirados
irrealizam o ano que não termina.

Não há um the end para o tempo, me perdoem.

A vida se estica e encolhe o corpo,
desalisa a pele. Joga um pozinho fino sobre o brilho dos olhos.

 Os ciclos são impossíveis. Não existem recomeços. A continuidade eterna é implacável.

Dezembro é apenas uma ilusão.
E janeiro também.
@anaribeiro

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Glossário

Dentre as palavras todas do meu disléxico

Gosto do ou e do se
talvez, seria, vários, quem sabe... são palavras que me atraem.

O quase, quase me angustia um pouco.

Vou sendo, estava, ando
poderia, quando... também me são caras.

Detesto tudo, nada, faça, venha, 
não sinta.

Abaixo o artigo definido, o substantivo concreto.

Prefiro nuvem.
@Ana Ribeiro

domingo, 28 de outubro de 2012

Apelo

Eu peço: não venha. Não venha agora. Não venha mais.
Nem amanhã também eu quero mais.
Eu peço: não fique. Não fique mais. Nunca mais.
Preciso que vá. Que vá sempre. Não quero que chegue para mim.
Porque esperar foi o que aprendi da vida a vida inteira. E agora eu gosto.
Seja sempre minha esperança.
O que sustenta minha espera.
O que sustenta minha fome, minha sede, meu desejo de querer ser feliz um dia.
Porque ser feliz é pra depois, sempre pra depois.
@anaribeiro

sábado, 15 de setembro de 2012

Sinal de trânsito





Na volta para casa, ao anoitecer,
a lua, a quarenta por hora na placa de velocidade permitida.
Nem diminuí quando ela me viu.
Escondeu-se no amarelo gema da faixa contínua.
Me deu passagem para a contramão.
Peço não perguntarem para onde eu ia.
Talvez, nem mesmo a lua soubesse.
@anaribeiro

Batismo

 Seu nome na minha boca. Macio e doce na aspereza da minha língua. Ao dizê-lo, te construo, E te faço imagem e semelhança do amor que tenho....