quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Final infeliz


Te falei da peia.
Dourou a pílula.
Sacudiu a poeira.

Te falei do ócio
Te falei da dor
Não quis nem saber
Nem tirar, nem  por.

Te falei que eu ia
Nem usei de tática.
Me olhou, nem gastou saliva.
Te falei que eu ia.

Ficamos assim,
sem eira nem beira,
na rua da amargura
como bem se dizia.

Eu tiro de letra esse drama barato.
Você nem se fala. Rasgou o retrato.

A vida é tão pobre. Esse romance
Não tem nada de nobre.
É como outros tantos iguais por aí.
Não vale um poema.
@anaribeiro

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Comercial


Evite a luz.
Evite o sol, se puder.
Não respire mais.
Coma pouco.
Não coma.
A água é insalubre. Não beba.
Dormir é perigoso.
Sonhar, impossível.
Rir? De jeito nenhum. O dia é só tragédia.
Mantenha-se alerta. De pé. Não corra. Parar também é proibido.
Saiba que o mundo é uma ameaça. Proteja-se.
Cuidado:
Viver pode causar câncer.
@anaribeiro

sábado, 14 de janeiro de 2012

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sobre laços e nós

Estreitos são os laços frouxos que nos arrematam.
Desembainhados, soltam franjas gastas que se pulverizam e se prendem incomodamente nas vestes, nos cabelos, no velho tapete da sala.
A cor ainda é bonita, mas há um insuportável cheiro de mofo sobre manchas desbotadas aqui e acolá.
O nó é forte, entretanto.
E se finge de enfeite.
Um enfeite murcho sobre um vestido velho.
Não há beleza.
Delicada pressão sobre  uma cintura antiga. E infinitamente mais larga. Apenas isto. Velhos laços estreitam os nós que nos prendem.
@Ana Ribeiro

domingo, 4 de dezembro de 2011

Antigamente...


Deu a mão.
E todos os dias
Entrega a outra face.

Sina de mulher?

Atire a primeira pedra quem não viu um caso assim.
Ainda hoje
E bem aqui.
@Ana Ribeiro







Batismo

 Seu nome na minha boca. Macio e doce na aspereza da minha língua. Ao dizê-lo, te construo, E te faço imagem e semelhança do amor que tenho....