não sabia ao certo
o que era certo.
Decerto.
Sabia que não podia não querer o que não queria.
Que não podia querer o que queria.
Não queria manto
nem teto
nem ovo,
nem ninho.
Não queria o pai,
nem o filho
não queria a mãe,
não queria a filha.
Ela. Ilha.
Queria a asa
e o vento
pouca pena
e movimento.
Queria a largura do espaço,
o vácuo
o salto,
o impacto.
Queria a vida.
A vida sem o tempo.
Queria a vida. Sem o laço do sustento.
Sem o laço que sustenta.
A dor do voo também queria
queria poder
não querer voltar.
Ave louca.
Sem juízo.
Deixas o paraíso?
Para não padecer
eu deixo.
Eu deixo o paraíso.
Ave louca.
Sem maçã, nem Adão.
Teu canto rouco
convida ao voo
para outra direção.
@Ana Ribeiro