terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Reflexo II

Nem flor, nem aurora, sonho ou cantoria.
A poesia é caos. E sua no calor do meio dia.

Nem dor, nem amor, nem lua que alumia.
Tem que vender barato, pagar as contas em dia
Beleza fugidia. Agonia.

A poesia é caos. E sua no calor do meio dia.
@anaribeiro

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quarta-feira de cinzas


 Fonte: torcedorcoral.com



Coloca-se novamente a máscara.
O rosto outra vez compenetrado. Pensamentos sem folia.
Alma de ressaca.

O bar da esquina tem apenas uma porta aberta.
É hora de varrer para fora o lixo das últimas risadas, agora esquecidas, despedaçadas, imóveis, espalhadas desfalecidas pelo chão.
Um bêbado na calçada insiste em segurar o instante. Inútil.

Rua suja.
De um jeito triste. Imóvel sujeira surda.
Alegria morta. O bêbado sorri.
É o limite.

Fiéis passam para a missa.
A música é outra.

Na boca ainda ébria da véspera
um sorriso samba mesmo assim.
@anaribeiro

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Valsa






Já nasceu ferida
ali. bem na beiradinha do mundo.
Ninguém a queria, menina.

Aprendeu a tomar o que sempre foi seu.
Com unhas e dentes, literalmente.

Cresceu destemida.
Achava que era bonito ser feliz.
Andar de batom.

No grito,
no muque,
no chute no peito.
Tomava alegria, achava que dava, se fosse bem forte.

Ferida de morte
De blush e perfume
Com pernas bonitas
Não mais de catorze.
Pegava na marra: os homens, as honras, a fama e a glória.
Seu nome era forte. Batia na morte e vencia: todos os dias.

Santa, flor, menina.
Eram nomes que ela não tinha.
Outros, mais duros, mais fortes, mais sujos, eram os que melhor lhe cabia.

Se queria, beijava
porque senão, batia.
Vendia prazer, sempre no fim do dia.

Seu seio perdido na palma da mão
nunca foi peito de leite tão branco

Pele quente de seda.

Menina mulher perdida e achada
nem flor, nem pecado. Já era da vida.
Gostava da vida,  quem disse que não?

Vítima nada,
Ovelha desgarrada, gostava assim.
Negra ovelha, nessa brancura sem fim.

Achava bonito ser feliz.
E não era má.


Um dia, bonita, no meio do salão.
Ele que não a conhecia, a pegou pela mão.
Dançou orgulhoso, olhou em seus olhos,
falou com carinho, baixinho.
Beijou-lhe a boca, tão suja, tão velha de tantos pecados.
Lavou-lhe a alma sem compaixão.
Bailaram, bailaram.
Beijaram-se sem exceção.
A cabeça no ombro de frágil idade.
Ele não sabia que não podia.
Que ela era da vida. Não era pra casar.
Ela, arrebatada, entregava-se noiva, sem saber.

E aquela noite, aquela música. Congelaram no corpo a palavra que mata.

Até que o baile acabou.
@anaribeiro

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Final infeliz


Te falei da peia.
Dourou a pílula.
Sacudiu a poeira.

Te falei do ócio
Te falei da dor
Não quis nem saber
Nem tirar, nem  por.

Te falei que eu ia
Nem usei de tática.
Me olhou, nem gastou saliva.
Te falei que eu ia.

Ficamos assim,
sem eira nem beira,
na rua da amargura
como bem se dizia.

Eu tiro de letra esse drama barato.
Você nem se fala. Rasgou o retrato.

A vida é tão pobre. Esse romance
Não tem nada de nobre.
É como outros tantos iguais por aí.
Não vale um poema.
@anaribeiro

Sentença

 Todo mundo vai morrer. Mas ninguém devia morrer de câncer. Porque de câncer não se morre... se vai morrendo... O gerúndio como o grande mal...