segunda-feira, 22 de agosto de 2011

AGOSTO





Gosto desse agosto seco, ventoso
jogando na minha cara uma  poeira infértil,
obrigando-me a perceber o chão.
Gosto desse agosto
dos ipês que troçam da morte
infiltrados na aridez penosa, resquício de um inverno atroz,
que brilham antes do sol.
Gosto desse agosto
prévia da vida que novamente se instala
na primavera que ainda não veio.
Gosto desse agosto de entremeios,
dos maus presságios, 
do que não veio
De atmosfera enfumaçada ao entardecer
nem quente -  arrepio, nem frio,
da desgraça anunciada.
Sem nada merecer
do meu olhar.
Gosto desse agosto
que inevitavelmente me dá os ipês
tão diáfanos e breves.
Seu amarelo  transitório
é capaz de me alegrar pelo ano inteiro.
Gosto desse agosto sem cheiro.

4 comentários:

  1. Também gosto de agosto, dos ipês nem se fala e deve ser por isso que compleo minha primavera neste mês de dias tão diferentes. Ficou show seu Poema Ana, no meu gosto!

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  2. E eu que não gostava muito de agostos, só dos ipês, agora também me vi obrigada a perceber o chão... Adorei, Ana!

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  3. Cara Ana. Gosto de tua intimidade com o entorno e como conversas com os teus olhos! Um bom abraço!

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  4. Gosto desse agosto:
    do seu cheiro
    dos seus olhos.

    Gosto desse agosto:
    do seu gosto
    de sua pele.

    Gosto desse agosto:
    agora
    em setembro.

    Agosto, desse gosto.

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Sentença

 Todo mundo vai morrer. Mas ninguém devia morrer de câncer. Porque de câncer não se morre... se vai morrendo... O gerúndio como o grande mal...